June 4, 2010

Saudades

Agradecimentos à vizinha surda - só pode ser surda, ou com um senso muito distorcido de vida em comunidade - que ouve música nas alturas um sábado de manhã. Fui acordada com um som que seria demasiado alto se fosse eu que estivesse ouvindo no meu quarto, mas não. A senhora mora no prédio da frente, 2 andares abaixo, e eu consigo ouvir toda a sua programação musical.
A primeira música começou: "Quem me dera ao menos uma vez...". Sim, lamente meu infortúnio. Eram eles. Não me levem a mal os fãs, eu gosto, eu sei as letras, eu me identifico. Eu só evito ouvir. Não é algo que se ouve todo dia, pra descontrair. Ultimamente, nenhum dia é um bom dia.
E lá foi ele, com sua voz marcante, ao verso que me chamou atenção como se eu nunca o tivesse percebido. "E é só você que tem a cura do meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi".
Eu tenho saudades do que eu nunca vi ou vivi, saudades do que eu nunca tive, culpa de quem imagina demais e faz situações tão perfeitas em suas pequenas falhas, mas ainda boas o suficiente para que eu sinta falta. Sinto falta como se tivesse acontecido de fato e eu tivesse, sei lá, estragado tudo de alguma maneira. Sinto falta como alguém que deseja voltar a trás e não errar nada, esticar aquele momento por mais um tanto.
Mas, não houve nada. O que poderia ter feito para que, se eu voltasse no tempo, eu conseguisse fazer acontecer? Se eu não consegui, não era pra ser, não é mesmo? E se acontecesse, teria garantias que fosse bom? Ok, eu sei de tudo isso, mas e essas saudades (virtuais)? Essa dor da perda em canções melosas? Lembro de uma professora de francês, tão nova, com um filho pequeno e um ex-marido relapso, ensinando pra turma "Non, je ne regrette rien", revelando um passado doído e a vontade de não se arrepender e recomeçar, como no final da canção, mesmo que seja com "moi" (ela mesma) e não com um outro "toi". Viver e aprender e ultrapassar.
Meu problema é recorrente e consciente. Não é a primeira vez que passo por isso, gostaria que fosse a última. Anos atrás escrevi pra mim mesma duas frases de ordem, deveria eu tê-las repetido todos os dias ao dormir e acordar:
Não se perde o que nunca foi seu.
Não se lamenta o que nunca aconteceu.
Negligenciei, como a outras coisas. E lá fui eu. Saudades. Problema está em esquecer tão bem aquilo pelo que passei (mesmo que tenha demorado e sofrido pra esquecer). Mas esqueço. E não aprendo. Caio novamente. Saudades. Enormes. Daquilo que não vivi.
Saudades de quando era bom. Foi bom algum dia?
Wisemen never fall in love... Zooey canta com cara-de-maluca. Há de se admirar.