June 13, 2010

Romance

O romântico quer morrer, quer sofrer, quer chorar, quer o impossível, quer o inviável. "Só o amor incompleto pode ser romântico", já proferira algum personagem de Woody Allen. E é verdade. Amor romântico vive na cabeça, na fantasia, sem os descontroles da realidade. O romântico está no controle do seu próprio sofrimento, das suas medidas e desmedidas. Escolhe o alvo que quiser, independente das possibilidades. Te imagino, te conserto, eu faço a cena que eu quiser. Eu tiro a roupa pra você, minha maior ficção de amor. Te recriei só pro meu prazer.
Te recriei pro meu sofrer. O romântico gosta implorar pra ficar, pra voltar, pra dar uma chance de provar o amor. Quer lamentar o que perdeu e o que nem chegou a ter. Quer pedir perdão sem ter feito nada. O romântico quer o mais difícil. Quer salvar a princesa no alto da torre mais alta. Quer salvar a princesa que não quer ser salva.
O romântico não é prático. Não quer ver sua fantasia realizada. É aquele que diz que o amor não tem pressa e que pode ficar no fundo do armário milênios, milênios, milênios... até que a cidade seja submersa e cientistas descubram esse estranho objeto de desejo codificado em hieróglifos complexos. Afinal, o romântico, não sendo prático, adora complicar as coisas.
Casais de namorados de mãos dadas no shopping, seu relacionamentos reais, obviamente viáveis (ora, já que estão juntos!), não são românticos. Implorar pelo que, a quem já te disse sim? As flores, os abomináveis bichos de pelúcia, os perfumes são meros caprichos, melosidade, cuti-cuti, miguxismo -- ou seria namoxismo? Nada contra. Só não é romântico. 
Relações precisam ser práticas para acontecerem. Há decisões a serem feitas. Ela te atrai porque é seu tipo, porque mora perto, porque está no mesmo grupo de amigos, gosta de coisas parecidas, frequentam os mesmos lugares. Ou porque é diferente, exótica. Ou porque é meio tapada, mas tem um corpo legal. Mais lógica ainda está no simples fato de ter acontecido. Deu certo, houve vontade e, por isso, decisão de ficarem juntos. O romântico somente sonha em um dia ver a amada tentar com ele. Nas fantasias, ele pondera: "se ao menos ela me escolhesse". Se ao menos isso tudo fosse posto em prática. Se ao menos fôssemos possíveis. Mas daí escolhe pessoas que ofereçam resistência e situações adversas. Tem que ser difícil. O romântico, quando namora, inventa ciúme, paranoia ou qualquer coisa. É preciso manter pulsando lá no fundo o medo de que, a qualquer momento, tudo vai dar errado.
Romantismo é rejeitar o viável, amar o impossível. É lutar com moinho de vento por esporte. Até cansar, desgastar, consumir-se. Lembre-se que, antes de Julieta, havia Rosalina. Rosalina cagava solenemente para Romeu, que mesmo assim passou um bom terço do livro ruminando sobre ela. Trocou essa impossibilidade por Julieta, mais impossível ainda. Completo romântico que era, desejou a morte. Andando de fantasia em fantasia, a mais irreal é a mais doce.
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