June 2, 2010

Ironia fina

Soneto
Chico Buarque

Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono
Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo
Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída
Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio
Não consigo me acostumar com a voz do Chico Buarque, suas fãs são losermânicas (ou seriam as fãs losermânicas uma evolução das buarquianas? A refletir), mas é preciso admirar MUITO uma coisa dessas...