February 27, 2010

Ouvindo até agora

Muito já foi dito sobre a amizade, que amigos são os irmãos que você escolhe e, por isso, o sentimento parece mais legítimo. Não se trata de alguém colocado arbitrariamente em sua vida, mas alguém com quem você convive, mas teria a liberdade de não estabelecer nenhum contato mais íntimo se assim quisesse. Porém, a afinidade foi inevitável, e consequentes o carinho, o cuidado e a atenção.
Meus amigos me amam.
Reconheço isso quando apoiam as minhas obsessões mais estúpidas.
Quando oferecem qualquer traço de paciência quando falo de um mesmo velho assunto, demonstrando, mesmo quando expressam cansaço com minha repetição, que se importam.
Quando me defendem, muitas vezes não de outra pessoa, mas de mim mesma (mais do que qualquer outra pessoa, eu me julgo, exigo e cobro primeiro - e só faço isso tudo comigo, mais ninguém).
Quando interpretam algumas coisas para mim, enquanto eu coloco filtros cor-de-rosa e sépia na frente de tudo. Era para eu ter raiva disso? Não tenho. Era pra não perdoar? Eu perdoo. Era pra esquecer? Ih, não consigo. Era pra achar um absurdo o que disse? Eu até que achei pertinente...
Amigos conseguem ser mais ácidos, mais distantes, conseguem se importar menos com a outra parte. Por que é você que importa, e que você se sinta melhor.
Nem sempre isso funciona, principalmente por que eu costumo assumir as dores de quem me causa o mal-estar. Já que a pessoa não está lá pra se defender, eu defendo. Muitas coisas podem indicar que a pessoa não liga a mínima pra mim, mas e se ligar? Já que eu sigo a linha do "mais complicado, melhor", quem pode afirmar que o outro não sente e sofre também? Eu não conseguiria determinar o que se passa na sua cabeça if I could. Então é preciso incluir uma margem de tolerância. Da minha parte, muita tolerância.
Sempre me lembro do Cazuza: "Desperdiçando o meu mel, devagarzinho, flor em flor... entre os meus inimigos, beija-flor". É preciso ser justo, repensar a acidez, que bem não faz. Demonstro uma atitude mais dura quando tenho motivos. Não gostar de mim não é um motivo, por que do mesmo jeito que não gosta de mim, não gosto de outros. E assim vamos todos nós, de desencontro em desencontro, até achar alguém que dê reciprocidade.
Certa vez uma amiga queria que eu me sentisse melhor, e resolveu maldizer uma pessoa com quem me relacionei. A intenção, das melhores, era me colocar em uma posição superior, que visse o outro como não merecedor da minha companhia, mas o efeito foi contrário. Se ele era tudo aquilo que ela dizia, o que era eu, que por um tempo apostei no relacionamento com ele? O silêncio era melhor. E eu o pedi.
Mas meus amigos acertam, na maioria das vezes, quando dão à alguma história incômoda que eu precisei compartilhar, o comentário preciso e direto que às vezes eu quero dizer em voz alta, mas não consigo. Conto a metade do conto, e eles completam. Com um encaixe cuja perfeição me encanta. Pode ser com humor, ironia, sarcasmo... o que me faz sorrir não é a piada, é saber que eles simplesmente entenderam o que eu quis dizer.

February 26, 2010

Skyscrapers



Skyscrapers please forgive me
I didn't mean a word I said
Skyscrapers I was just tangled up in my own head

And somehow in all the madness
I thought that I was seeing straight
It ain't always pretty but it seemed there was no other way

And I guess all I ever loved
Was standing right before my eyes
And I, oh I, I was blind

**** Gostei da metáfora... quer dizer, inventei uma pra mim, uma que só eu entendo.
(via @victorrib)

February 25, 2010

David Mamet e a "Jornada do Heroi"

"O teatro tem como tema a jornada do heroi, sendo o heroi e a heroina aquelas pessoas que não cedem à tentação. A história do heroi é sobre uma pessoa que está passando por um teste que ela não escolheu.
(...) [O] heroi de uma tragédia tem de lutar contra o mundo, embora indefeso e sem outras ferramentas que não a sua vontade. Tal como Hamlet, Odisseu, Édipo ou Otelo. Todas as mãos se erguem contra esses herois e eles não estão à altura da jornada que têm que empreender. A força desses herois vem do seu poder de resistência. Eles resistem ao desejo de manipular, ao desejo de “ajudar”. O autor da revista do Super-homem, para não falar dos economistas do governo, pode nos “ajudar” a chegar a uma solução proclamando que suspendeu as leis naturais, mas no final Hamlet, Otelo, vocês, eu e o resto da plateia têm de viver no mundo real, e a "ajuda" prestada pela repressão ao conhecimento disso é na verdade uma ajuda bem pobre.
Alguém disse (Reagan declarou isso, e tenho certeza de que foi dito antes dele): "As nove piores palavras de nossa língua são: 'Eu sou do governo e estou aqui para ajudar.'" Isso significa: “Vou sugerir soluções para um problema com o qual não só eu não estou envolvido mas ao qual me sinto superior.” Isso é feito por políticos. É feito por professores e pais.
Ao ouvirem esta ajuda que se anuncia, as crianças, os eleitores e os espectadores sentem-se hostis, mas sufocam sua hostilidade. Dizem: "Espere um instante, essa pessoa está me dando um presente; não é o presente que eu queria, mas como ouso me enfurecer?"
No teatro, o processo de "ajuda" não é uma participação na jornada do heroi. É um processo de infantilização e manipulação da plateia.
O líder, o grande homem ou mulher, não diz: “O fim justifica os meios”. O grande vulto diz: "Não existe o fim, e embora isso possa me custar caro (como custou a vida a Santa Joana; como pode custar a X, Y ou Z a eleição; como pode custar ao ator o papel no teste), eu não vou dar-lhes o que eles querem, se o que querem é uma mentira".
É o poder de resistência que nos afeta. É o poder de alguém como o Dr. King ao dizer: "Não tenho instrumentos; vocês podem me matar se quiserem, mas terão que me matar".
É o poder de Theodor Herzl, que disse: "Se voce quiser, isso não será apenas um sonho".

(David Mamet, "Os três usos da faca - Sobre a natureza e a finalidade do drama")

February 24, 2010

Oh, Jenny!!


But you are what you love
And not what loves you back
And I'm in love with illusions
So saw me in half
I'm in love with tricks
So pull another rabbit out of your hat

February 23, 2010

Chega de falatório.

***
Às vezes penso se estou exagerando. Talvez, provavelmente, mas o que sinto parece bem real. O coração parece ter acabado de correr uma maratona. Imagino-o cansado, largado em uma cadeira, ofegante, zonzo. Está frágil, qualquer esbarrão o faria cair. E levantar? Ele nem sabe onde está, que tempo fez, quantos cruzaram a linha de chegada antes dele ou depois. Esgotado. Tanto que poderia chorar, mas sabe que já evaporou todo líquido que tinha. A tristeza de não ter faturado o prêmio bate, mas nesse momento o mais importante é manter os sentidos, esperando que o próximo suspiro acalme a tormenta.
Um pensamento leve perturba tudo, tudo vem à tona, flutua a maré. Corro para fechar as portas e conter as águas. Isso tudo já está ficando muito chato. Repito algumas vezes que é para que eu aprenda, e mesclo fé e descrença num sucesso futuro. É nessa balança que me apoio, a soma zero que dá quando empurro a mesma medida de desolação e esperança. O que me salva é justamente querer muito ter um dia aquilo que não tenho agora. Quem sabe valha a pena.
Não vejo escuridão em tudo, só estou muito cansada. Tem um momento em que o baque é grande, você cai e não levanta. Leva as mãos à cabeça, fecha os olhos, e espera que o corpo tenha vontade de levantar outra vez. E o que me levantaria, o que faz valer a pena levantar?
Penso, tudo vem. Cheiro de chuva, de canela, de baunilha, de refogado, terra molhada. Banho de chuva, não precisa estar muito calor. Todos os nasceres e pôres-do-sol. Domingos de manhã em casa, com o jornal. Golden Retrievers. Mason, aliás. Todas as poses dos gatos. A lua, e seu coelho. Thaissa, seu abraço singelo que faz qualquer instinto maternal pular. Os tênis sujos de Bleeker ao lado das meias coloridas de Juno, os dois deitados na maca da maternidade. Filmes bons de decorar as falas. O Mion dançando Wuthering Heights. A hora em que Thiê aponta e diz "Braaaandooon". Qualquer um imitando o Sílvio Santos. A letra de Heroes. O momento em que Scout olha a figura atrás da porta e diz "hey, Boo". O piano de Bowie em Satellite of Love. Aliás, o final de Satellite of Love, quando as múltiplas vozes aparecem e você sente como se estivesse decolando com o satélite, momento pop-transcendental. Brincar de descobrir os momentos pop-transcendentais de uma música, aquele momento que te eleva pra outro lugar. A língua francesa. Nuvens bem definidas. Central Park. Nova York. O outono do outro hemisfério. Frio. Brownies, cinammon rolls e sorvete cookies & cream. Encontrar sozinha o caminho após me perder. Encontrar o Starry Night de Van Gogh. Enfiar a mão num saco de farinha. Festas supresa. Ganhar um bom presente. Amigos. Amigos que estimulem minhas obsessões. Ajudar alguém. Abraços. Conseguir conquistar, mesmo depois de muito tempo, a amizade e a confiança de alguém. Sentir saudades de um personagem de um livro. Chorar de felicidade. Ouvir sua banda favorita ao vivo. Cantar junto de qualquer jeito. Cantar Magnificent, Cosmic Dancer, Pretty Bird, Split Needles. Cantar bem uma música, mesmo que ninguém tenha escutado. The Bealtles. Hey Jude. Touch Me. Waiting on a friend. The Smiths. O final de Weekend Wars, o começo de Immigrant Song. A discografia do The Shins. Ritmo. A bateria em Chemtrails. Jack Black designando funções na banda de rock das crianças. Ruivos. Banho de mar. Neve. Conseguir ver as formas perfeitamente intrigantes de um floco de neve. Jenny Lewis. Erland Oye. Shiley Manson. Billy Corgan. James Mercer. Mark Ronson. Bono Vox. Adrien Brody. O sorriso de Ewan McGregor quando a repórter inocentemente pergunta "was it hard?". Correr que nem louca. Dançar que nem doida. Rir que nem retardada. Narizes expressivos. Lábios grossos.
Lembrar de crer no amor que tudo perdoa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Desejar mapear seu corpo e seus gostos. Tentar localizar no tempo e no espaço (passado, futuro ou plano paralelo), o momento em que tudo era possível.

Falando nisso...

Adoro esses pequenos aprendizes de Flaming Lips...

February 22, 2010

Ainda falando.

Dia 2 do Little Joia. Vamos até onde vai.
Ainda pensando em coisas pra dizer, tenho-as muitas. Mas, na maioria das vezes, pensamentos vêm e vão sem encontrar materialidade, registro. Um bloquinho, um guardanapo, um computador ligado. Sempre pensei que um dia deveriam criar um gravador mental (alô, Steve Jobs?). Eu ia usar pra gravar minhas músicas, que aparecem com letra, melodia, arranjo, full band e os escambau, mas que não são um sucesso porque só ficam na cabeça - e geralmente brotam durante o banho (lugar menos propício para a escrita). Minutos depois, elas evaporam. Pena.
Tenho coisas a dizer aqui, às vezes me preocupo se não revelaria demais. Muitas coisas não interessam a ninguém. Interessa o fato de eu conseguir escrevê-las. Aparentemente, e tenho aprendido, algumas coisas preciso aprender a falar.
(queria que alguém me desafiasse. De novo.)
As coisas que queremos dizer precisam ter importância e utilidade? Um exemplo, quero dizer que tenho saudades, mesmo sabendo que não sou correspondida. Dizer que tenho saudades vai me fazer bem por ter expressado o sentimento. Mas a pessoa que não corresponde... bem, ela não vai poder fazer nada, não é? Sim, às vezes o que a gente fala muda alguma coisa. Mas às vezes não muda. Suas palavras mereceram ganhar o ar, a pessoa mereceu ouvir? Ok, outro mérito...
Gostaria de dizer umas coisas pro meu pai, por exemplo. Gostaria de saber dizê-las de um jeito que ele pudesse entender. Não digo porque não confio que vou conseguir, e temo piorar tudo. Novamente, na minha cabeça tudo é de uma elouquência de Barack Obama com ponto eletrônico. Já na vida real, sou eu, sem ponto, sem pontos definidos no discurso. Para ele, por exemplo, gostaria de falar que, quando não querem nosso conselho, é por que não querem. E que quando não querem seguí-lo, simplesmente não o farão. E que quando diz "eu estou aqui para ajudar", significa se colocar superior enquanto está fora do problema, portanto alheia (Ronald Reagan tirou isso de algum lugar, David Mamet citou). Por mais bem intencionados, precisamos entender que cada um faz seu caminho. Mas é aquilo, esse meu conselho pode ser ouvido e entendido. Ou não.
Gostaria de dizer outras coisas para outras pessoas...
Joguinho perverso esse: se te encontrar, por um acaso, por aí, esbarrar como disse, vou dizer isso e isso e isso e isso... Das coisas mais importantes às mais banais. Vou dizer de um modo que vai ouvir e entender, considerar e transformar, seguro e confiante. Um milhão de cenas aleatórias, recortes do cotidiano: de repente estamos em um lugar qualquer, o assunto é um qualquer, mas eu sustento. E muito bem. E calo sua boca. E faço começar tudo outra vez, só que diferente. Rewind e resume de algum ponto altamente favorável que eu perdi lá atrás.
Vai saber. Esses sonhos não devem encontrar materialidade.
Enquanto isso, Barack Obama battles the pink robots...

The name is Yoshimi... she's a black belt in karate... (continua)

February 21, 2010

Vou te falar...

E se eu quiser falar sério? Se eu quiser falar bonito... de novo. Consigo? Dá pra ser?
Eu costumava escrever, e bem até. Perdi a poesia, perdi a prosa, perdi o doce. Escrevo agora como um garoto displicente e inconsequente.
Pior, como um garoto que quer provar alguma coisa ao mundo.
Que pensa que precisa provar alguma coisa.
Lá vai ela tentar de novo. Louca.
****
Um blog requer preparação. Tem gente que não consegue simplesmente escolher o layout mais simples e mandar bala. Que nem gente que quer escrever um livro, uma carta, tem que achar o caderno certo, a caneta da cor certa. Não é besteira, é ritual, é estímulo. Blog comigo é assim, e com outras pessoas também. Quem é que faz blog hoje em dia? Quem é que faz diário? Sei lá.
Começa com o nome. Comecei a brincar de cadastrar nomes aleatórios no Blogspot. E por "nomes legais" quero dizer aqueles que ninguém tinha pego ainda. Difícil. Lembre-se de que a cada segundo são criados mil blogs. Ok, essa não é a estatística exata, mas é por aí... Fui brincando até ter alguma ideia, procurando alguma referência legal em músicas e filmes. Pelo twitter, achei uma muito boa. Eu queria "Pink Freud". Taí o homem.
Oh, as sandices filosóficas que eu falaria...

Como toda ideia boa, já estava sendo utilizada.
Na onda das brincadeiras com nomes, cheguei ao que está. E assim pode ficar.
Daí, veio o brainstorm para o visual. Apesar da minha inexperiência, depois de muito tempo + tutorial do Photoshop + kuler (recomendo! são sugestões de palheta de cores) + busca no Google, eu cheguei ao resultado que eu queria. Orgulho da mamãe. O layout do PapoPertinente também já tinha ficado um pitéu. Simples, funcionante.
Cansei um pouco do Caderno da Verdade, porque ele não tem muita cor, movimento e música. Twitter não tem muito espaço. Mania a minha de falar, falar demais. Faço um blog por ano, meu Twitter tem atualização frenética, muito além do que eu gostaria. Meus blogs não fazem sucesso, mas eu não ligo, nem os faço pra isso. O importante é tentar me expressar. Dizem que isso faz bem, mas tenho minhas dúvidas. Tentativa e erro. Ter medo de errar é normal, mas não pode ter medo de tentar.