"O teatro tem como tema a jornada do heroi, sendo o heroi e a heroina aquelas pessoas que não cedem à tentação. A história do heroi é sobre uma pessoa que está passando por um teste que ela não escolheu.
(...) [O] heroi de uma tragédia tem de lutar contra o mundo, embora indefeso e sem outras ferramentas que não a sua vontade. Tal como Hamlet, Odisseu, Édipo ou Otelo. Todas as mãos se erguem contra esses herois e eles não estão à altura da jornada que têm que empreender. A força desses herois vem do seu poder de resistência. Eles resistem ao desejo de manipular, ao desejo de “ajudar”. O autor da revista do Super-homem, para não falar dos economistas do governo, pode nos “ajudar” a chegar a uma solução proclamando que suspendeu as leis naturais, mas no final Hamlet, Otelo, vocês, eu e o resto da plateia têm de viver no mundo real, e a "ajuda" prestada pela repressão ao conhecimento disso é na verdade uma ajuda bem pobre.
Alguém disse (Reagan declarou isso, e tenho certeza de que foi dito antes dele): "As nove piores palavras de nossa língua são: 'Eu sou do governo e estou aqui para ajudar.'" Isso significa: “Vou sugerir soluções para um problema com o qual não só eu não estou envolvido mas ao qual me sinto superior.” Isso é feito por políticos. É feito por professores e pais.
Ao ouvirem esta ajuda que se anuncia, as crianças, os eleitores e os espectadores sentem-se hostis, mas sufocam sua hostilidade. Dizem: "Espere um instante, essa pessoa está me dando um presente; não é o presente que eu queria, mas como ouso me enfurecer?"
No teatro, o processo de "ajuda" não é uma participação na jornada do heroi. É um processo de infantilização e manipulação da plateia.
O líder, o grande homem ou mulher, não diz: “O fim justifica os meios”. O grande vulto diz: "Não existe o fim, e embora isso possa me custar caro (como custou a vida a Santa Joana; como pode custar a X, Y ou Z a eleição; como pode custar ao ator o papel no teste), eu não vou dar-lhes o que eles querem, se o que querem é uma mentira".
É o poder de resistência que nos afeta. É o poder de alguém como o Dr. King ao dizer: "Não tenho instrumentos; vocês podem me matar se quiserem, mas terão que me matar".
É o poder de Theodor Herzl, que disse: "Se voce quiser, isso não será apenas um sonho".
(David Mamet, "Os três usos da faca - Sobre a natureza e a finalidade do drama")
1 comment:
É isso, resumindo: Move it!
Lindo, tem a expressão e aforça anarco, do faça você mesmo ao invés de ficar como uma criança esperando a intervenção da mamãe estado/empresa/mercado seja lá quem for. Se você quer intervenção pq naão dá conta sozinho, pode ir lá e pedir e apontar direções.
Você é rei de você mesmo, e isso basta para governar o mundo.
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