Muito já foi dito sobre a amizade, que amigos são os irmãos que você escolhe e, por isso, o sentimento parece mais legítimo. Não se trata de alguém colocado arbitrariamente em sua vida, mas alguém com quem você convive, mas teria a liberdade de não estabelecer nenhum contato mais íntimo se assim quisesse. Porém, a afinidade foi inevitável, e consequentes o carinho, o cuidado e a atenção.
Meus amigos me amam.
Reconheço isso quando apoiam as minhas obsessões mais estúpidas.
Quando oferecem qualquer traço de paciência quando falo de um mesmo velho assunto, demonstrando, mesmo quando expressam cansaço com minha repetição, que se importam.
Quando me defendem, muitas vezes não de outra pessoa, mas de mim mesma (mais do que qualquer outra pessoa, eu me julgo, exigo e cobro primeiro - e só faço isso tudo comigo, mais ninguém).
Quando interpretam algumas coisas para mim, enquanto eu coloco filtros cor-de-rosa e sépia na frente de tudo. Era para eu ter raiva disso? Não tenho. Era pra não perdoar? Eu perdoo. Era pra esquecer? Ih, não consigo. Era pra achar um absurdo o que disse? Eu até que achei pertinente...
Amigos conseguem ser mais ácidos, mais distantes, conseguem se importar menos com a outra parte. Por que é você que importa, e que você se sinta melhor.
Nem sempre isso funciona, principalmente por que eu costumo assumir as dores de quem me causa o mal-estar. Já que a pessoa não está lá pra se defender, eu defendo. Muitas coisas podem indicar que a pessoa não liga a mínima pra mim, mas e se ligar? Já que eu sigo a linha do "mais complicado, melhor", quem pode afirmar que o outro não sente e sofre também? Eu não conseguiria determinar o que se passa na sua cabeça if I could. Então é preciso incluir uma margem de tolerância. Da minha parte, muita tolerância.
Sempre me lembro do Cazuza: "Desperdiçando o meu mel, devagarzinho, flor em flor... entre os meus inimigos, beija-flor". É preciso ser justo, repensar a acidez, que bem não faz. Demonstro uma atitude mais dura quando tenho motivos. Não gostar de mim não é um motivo, por que do mesmo jeito que não gosta de mim, não gosto de outros. E assim vamos todos nós, de desencontro em desencontro, até achar alguém que dê reciprocidade.
Certa vez uma amiga queria que eu me sentisse melhor, e resolveu maldizer uma pessoa com quem me relacionei. A intenção, das melhores, era me colocar em uma posição superior, que visse o outro como não merecedor da minha companhia, mas o efeito foi contrário. Se ele era tudo aquilo que ela dizia, o que era eu, que por um tempo apostei no relacionamento com ele? O silêncio era melhor. E eu o pedi.
Mas meus amigos acertam, na maioria das vezes, quando dão à alguma história incômoda que eu precisei compartilhar, o comentário preciso e direto que às vezes eu quero dizer em voz alta, mas não consigo. Conto a metade do conto, e eles completam. Com um encaixe cuja perfeição me encanta. Pode ser com humor, ironia, sarcasmo... o que me faz sorrir não é a piada, é saber que eles simplesmente entenderam o que eu quis dizer.