May 29, 2011

Sobre vídeos amadores, paródias e afins.

Eu não sei o que anda mais escasso nessa vida, além de noção. Acho que é a boa vontade. Boa vontade de dar a certas coisa o peso e a levaza devidos, e a boa vontade ver que os tempos estão a-changing. Boa vontade de não fazer briga por coisas cada vez mais naturais.
Já explico. É que vejo uma um reacionarismo muito estranho às produções e paródias amadoras, agora que estou incluida no papo com "O Cão Mais Arrependido da Cidade".
Veja bem, eu não sou tão civil assim no papo. Eu fiz Comunicação Social, Jornalismo. Eu me interesso pelas possibilidades da internet, eu sou fascinada por memes. Eu emprego é com mídias sociais, analisando o que os comunicólogos de internet chamam de "Conteúdo Gerado pelo Usuário". E eu fiz minha monografia sobre isso, precisamente sobre o YouTube, precisamente sobre vídeos amadores, chamada "Upload para a fama - A produção audiovisual amadora na era do YouTube" (que está online pra qualquer um com paciência ler as suas 90 páginas). Minha nota foi dez, mas sem me gabar. Fiz isso porque eu mesma comecei a produzir para o YouTube em 2009, não pela fama, mas disso eu falo já em breve.
A questão é que estudei pra poder falar sobre isso. Analisei, li livros, fiz entrevistas, ví inúmeros vídeos, fui a palestras. Li opiníões inflamadamente a favor e contra, pra poder fazer minha própria opinião, pra poder melhor dar meus pitacos.
Acontece que eu não vejo a produção amadora com olhos que classifique uma ou outra com importância artística e/ou social ou não. A diferença é a escala do alcance, e não exatamente a mensagem ou sua suposta nobreza. Pois o bichinho que originou uma, originou todas.
A coisa começa com o acesso à internet, e as ferramentinhas que foram criadas para que cada um pudesse brincar de jogar conteúdo ali. A chamada "democratização dos meios de produção" nada mais é do que uma câmera mais barata que grave minimamente bem, o Windows Movie Maker em todos os PCs, o YouTube ali dizendo "Broadcast Yourself". A geração que viu TV a vida toda, pode pensar "eu posso fazer isso". Não pro mundo todo, não pra ter qualidade, fama e dinheiro. Mas porque é possivel.
Se a sua audiência partir do seu grupo de amigos para 2 milhões de pessoas, a história é outra. Sou do grupo de comunicadores que acredita não ser exatamente possível produzir um viral. Há uma lista de atributos que pode ser feita, mas nada garantiria 100% um sucesso. Mas a primeira é quase óbvia: faça. E a segunda: disponibilize.
Reclamar da orkutização da internet, da enxurrada de vlogs, do sucesso do miguxês ou tiopês, dizer que a internet é cheia de lixo e de coisas desnecessárias é quase moralizante. Se McLuhan disse que "o meio é a mensagem", a mensagem é que as pessoas vão fazer na internet o que elas quiserem, simplesmente porque elas podem, não é proibido (a maioria), e nos crescemos pra copiar, colar, apertar rec e clicar upload. Depois de séculos de discussão filosófica, é frustrante travar uma conversa sobre o que é necessário ou não, o que pode ser arte ou não. Quantos anos fazem da apropriação da repetição, da tecnologia, da cultura pop por artistas, e 2011 ainda precisamos discutir? Só porque agora um menino fazer um vídeo em que diz "Mamilos são polêmicos"? No fim, a necessidade e impotância é relativa. Você pode ver uma brincadeira oude outro vê uma crítica, mas necessidade ou não é uma discussão que não cabe. A internet não é recebimento passivo de informação, é uma conversa. Você faz isso, eu posso fzer isso + aquilo e divulgar também. Contam um conto para o espectador aumentar um ponto. Porque se ele quiser, ele pode. Ele tem ferramentas para isso. E daí temos a cultura de mashups (por isso gosto tanto dos mashups!), a cultura de nicho, o que eu quero ver ou ouvir, eu mesmo seleciono, e até faço.
Recapitulando, se uma banda hoje pode encontrar 2 milhões de espectadores para seu vídeo sem ajuda de uma estratégia de marketing massiva, é porque outras pessoas podem enviar vídeos de seus bebês fofos e gatos em caixas. É porque fomos rapitamente acostumados a buscar online uma alternativa à programação oficial e testada em grupos de foco das TVs. E se um grupo de pessoas faz uma brincadeira ou paródia, não é ofensa, não é inveja, não é zombaria, não é sede de fama. É porque eles também querem e podem fazer parte da conversa.
(Com exceção, é claro, do Rafinha Bastos, esse não é mais Usuário médio que gera conteúdo, ele sabia muito bem que estava fazendo antropofagia de hype... mas essa é ooooutra história.)

Essa deve ser uma boa hora para divulgação do portfólio da Eu&OsMeus: http://euosmeus.tumblr.com/ =)