June 24, 2010

Memorial

Não sou adepta a rituais, mas tenho minhas cismas. Coisas que eu sinto necessidade não-lógica de reencenar, revisitar. Tenho rituais com lugares físicos que elejo por alguma importância emocional imposta, a fim de tentar, mesmo que em vão, reviver os momentos ali vividos, prestar homenagem, respeito e condolências ao que passou tão passado. E rápido. Digo que é necessário voltar, naquela de tentar se prender. Coloco um peso solene. Com o tempo, a lembrança vai queimando menos no peito. Não tem problema, acontece (com sorte!). O marco já foi feito.
Tenho muitos, um deles é uma rua inteira, fiz o mapeamento emocional de toda sua extensão. Conheço os estabelecimentos, noto quando um fecha, outro abre, acompanho a evolução das obras e cataloguei os diferentes cheiros que pairam conforme evoluo a passos rápidos. As lanchonetes, os cinemas, os pontos de ônibus, ah, o ponto de ônibus! E a tal esquina. Virou ritual, instalação de memoriais. Virou turismo emocional que só eu entendo. "E agora, à sua esquerda, você verão onde blá, blá, blá."
Espalharam pedaços de mim que eu deixei que levassem, parece que estou sempre a procurá-los. Se escondem entre DVDs à venda nas prateleiras, dentro das máquinas de lavar cheias de amaciante, atrás do balcão de lanches, na escuridão do bar e dentro dos sapatos na vitrine. Vou na mesma cabine do banheiro, a do meio, mas não encontro. Entro na mesma sala de cinema, não estava lá. Esperei o sinal abrir na mesma esquina, em vão. Sentei na mesma mesa, e não veio. Foram-se todos. São apenas rituais de condolência. Saudades do tempo em que era infeliz e adorava.
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1 comment:

Phael said...

Aiii
fiquei com tanta saudades de algumas coisas, da Uff principalmente...
A saudade tem essa "dupla face", nostalgia e muitas vezes tão melancólica... acho que todas as minhas "saudades" começam nostálgicas e terminam melancólicas, ou começam melancólicas e terminam nostálgicas...aiiii.. sei não

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