O que foi o show do Hole, né, gente? Courtney estava lá, magra, bagaça, vimos seus peitinhos (quem nunca viu?), e sem os componentes originais da banda faz tempo. Um guitarrista-mirim acompanhava no look bagaceira. Umas quatro ou cinco modelos vestidas em inspiração anos 20 dançavam lânguidas, tão bonitas quanto esquisitas. A guitava desafinava, a voz falhava e ainda assim era o Hole.
Foto: Samuel Kobayashi / Multishow |
Courtney Love está presa. Presa nos 90's, numa coisa que ela foi, na importância que ela teve. Já nos 50, ela mostra sua autenticidade nos palcos e online tretando com desafetos que ela traz há anos. As feridas não curam, penso que ela não quer, nem consegue viver sem elas. Courtney viveu algo que ninguém pode dizer que não teve importância. Tire isso dela e o que resta?
Mas isso não é mal. É o papel dela. Pense no que a música do Hole significa. Pra mim, Hole tem cheiro de rebeldia adolescente. Não uma rebeldia advinda de sofrimento total, nem uma rebeldia sem causa. Rebeldia de crescer. Teenage angst, saca? Pense em você, se você passou por isso. Um dias as suas roupas rosa e o mimo não falavam a sua língua. Algo mudou, mas não se sabe exatamente o quê. Nem o que fazer com isso. Você veste uma camisa preta, pinta os olhos, fala palavrões pra chocar, e bota no rádio uma música suja e pós-punk. Isso é Hole. Imagina o que é, para as meninas, ver aquela senhorita desgrenhada, pernas abertas, roupa e corpo largado e liberado, batom borrado, cantando músicas sobre o que é a beleza no mundo e sobre ser pedaços de boneca? Hole cheira a cereja, cheiro de menina que será uma mulher em breve, só ainda não sabe como isso vai acontecer. E se misturam ali dentro o sentimento de rebeldia com o querer estar certa e ser amada.
Pense na excêntrica Juno, arranhando "Doll Parts" no violão com o pós-adolescente quem-sabe-futuro-pai-adotivo do bebê que ela espera sem saber (ainda) que está apavorada. Pense em Lucy, personagem de Liv Tyler em Beleza Roubada, dançando loucamenta ao som de "Rock Star", na villa italiana em que procurava experiências opostas ao tédio.
Pense em por que Hole é a trilha dessas moças?
Courtney diz que não liga, mas ela liga. Por isso as tretas. Ela se importa, e muito, com o que pensam dela. Ela também é essa adolescente rebelde e desbocada, mas que também quer estar certa, ser ícone e ser amada.
E enquanto hoje há muitas bandas que sonorizam muito bem a social dos bem-vestidos, com suas batidas super feelgood, Hole fica no quarto dessas meninas, bebendo angústia de crescer. "É impossível gostar de Hole em 2011", ouvi dizer. Se você nunca curtiu, é team Dave Grohl ou viu Kurt & Courtney e acredita piamente que Love mandou matar o marido, realmende não dá. Mas se você ainda tem resquícios dessa adolescente dentro do peito, ou ao menos nostalgia desses tempos, dá sim.