Hoje o Alex Kapranos falou comigo no Twitter. Venci na vida, Brasil?
Numa divagações no Twitter sobre sonhos, cansaço e semi-consciência, o vocalista do Franz Ferdinand lamentou ter disperdiçado o que ele estava sentindo ao se dispor a discutir a coisa com meio mundo. Foi aí que eu entrei, dizendo que as pessoas são mais cismadas em dividir/divulgar o momento do que sentir/viver o momento. É por isso justamente que todo mundo vai a shows como o dele prontos para fotografar e gravar cada detalhe. E aparentemente ele não curte isso.
Groupices à parte, eu realmente penso o que eu disse. A epifania veio num show do Death Cab For Cutie há uns anos. Eu estava muito perto do palco, gravando o show, quando percebi que estava vendo o show pela tela da câmera. Hello? Os caras estavam bem na minha frente. Pergunta se eu vejo aqueles vídeos que fiz hoje em dia? Sem falar que a maioria dos vídeos capturados em shows tem um som completamente estourado. Fotografar show, sem uma câmera das boas, nem rola. Pra não cair na minha própria armadilha de acabar assistindo pela câmera, não a levo mais comigo.
Mas tudo parece se organizar com a imagem, uma espécie de prova que você esteve presente, documentado de modo que possa ser compartilhado. Fotos pro Facebook/Orkut, vídeos pro YouTube, relatos em tempo real no Twitter, somos papparazos de nós mesmos. Senão, não sentimos como se realmente aconteceu. Talvez sejam informações demais, a memória falha, precisamos dessas pistas para lembrarmos. Mas na fissura de documentar, o momento presente perde a mágica. Ou melhor, a mágica é jogada pro passado. A vida na era de sua reprodutibilidade tecnológica.
Com a resposta do Kapranos, um outro usuário brasileiro nos recomendou um poema de Jorge Luís Borges:
Nostalgia do Presente
Naquele preciso momento o homem disse:
"O que eu daria pela felicidade
de estar ao teu lado na Islândia
sob o grande dia imóvel
e de repartir o agora
como se reparte a música
ou o sabor de um fruto."
Naquele preciso momento
o homem estava junto dela na Islândia.