Ch-ch-ch-ch-changes

Tudo está meticulosamente no mesmo lugar. É assustador. Com exceção dos calendários, que precisam por regra serem renovados a cada ano. Minha impressão é a de que por debaixo das pilhas de jornais - que cresce diariamente a medida em que são entregues - conseguiria achar algum que eu tenha lido. Pisei pela primeira vez lá há 4 anos e meio. Apesar de no mesmo lugar, tudo está 4 anos e meio mais velho. E mais melancólico. A lista de aniversariantes ainda tem meu nome. A lista de telefones ainda tem meu telefone, que eu troquei há 3 anos.

As coisas estão no mesmo lugar há 4 anos e meio. E quanto tempo antes as coisas já estavam lá?

Me peguei pensando sobre mudanças. Olho em volta, olho pra minha vida, e sei que sempre há algo de novo. Guardo muita coisa por muito tempo, mas um dia jogo fora de vez. Jogo fora de vez e não lembro mais. Não sou a mesma de 4 anos e meio atrás. Mudei de cor, engasgo ao ser perguntada sobre alguns assuntos, que não incomodavam antes, mas agora incomodam. Falo melhor ao telefone, mas ainda falta aprender a discutir grana decentemente.

Ainda assim, nada mudou drasticamente. Nenhuma novidade grande ou aparente. Mas aqui e ali, existem.

Encontrei um objeto que esteve sempre no mesmo lugar desde que o vi pela primeira vez. Resolvi colocá-lo em outro lugar. Não muito longe, mas outro lugar.

Amanhã trago uma câmera e pulo a varanda pro telhado mais uma vez. Por que nem tudo eu queria que mudasse.