Ficamos sabendo ontem, logo cedo, que David Bowie fez sua passagem. É verdade, por mais que a ficha demore a cair. Um post suscinto e sem muitos detalhes nas mídias sociais oficiais junto a confirmação do filho foram um choque perto do fato de ele ter aniversariado e lançado um álbum há poucos dias, lançado clipe e parecido, aos nossos olhos, bem de saúde. Criou até o último minuto. Seu último álbum carregava experimentalismo, letras complexas, mensagens fortes, sua mente estava ativa e esperávamos apenas mais, e não um adeus. Ele partiu com discrição impressionante em tempos de supercompartilhamento, uma prova de que ele atingiu um patamar de controle absoluto sobre sua vida e sua obra. E fez o que julgou melhor com isso.
Bowie em uma das suas últimas imagens de divulgação.
Faço parte de uma geração que viu pouco do Bowie na ativa. Escavamos o máximo do seu passado e nos alimentamos dele, mas perdemos a sua energia do palco e o tempo em que ele estava sempre presente nas notícias. Posso dizer que tenho 15 anos de fã, o que me coloca descobrindo e amando sua obra pelos idos de 2000. Lembro de quando ele lançou Earthling, e achava "Little Wonder", que eu via na MTV, estranhamente envolvente. Ouvia músicas antigas nas rádios que não associava a ele. Mas entender de fato o que ele significava e amar sua música, foi só um pouco mais tarde. Acabei descobrindo quem em 1997 ele fez shows no Brasil, e eu pensava que a primeira e única turnê a passar por aqui tivesse sido em 90. De qualquer forma, eu tinha 11/12 anos e não registrei o fato. A última turnê que ele fez foi a Reality, ali por 2003, que não veio pra cá. Depois disso, ele nunca mais fez turnê, se apresentou pouco ao vivo e dificilmente dava alguma pala por aí. Restava garimpar preciosidades antigas no YouTube e manter uma fantasia boba de um dia cruzar com ele em alguma rua de Nova York, ou num mesmo café, só pra vê-lo e acreditar que ele era real.
A opinião recente de Bowie sobre shows era "não vai ter show" e eu aprendi a conviver com isso. E no final das contas, achava justo. Afinal, quem mandou chegar tarde no mundo? Um show dele nessa fase atual seria 1) caríssimo, concorrido, a busca por ingressos mais frenética de todos os tempos e 2) provavelmente em Nova York ou Londres, ou em qualquer lugar no estrangeiro pra aumentar mais os custos. E eu iria fatalmente perder esse momento. Então, se eu não poderia ver o Bowie, ninguém poderia. Como disse, muito justo!
Ficamos com as nossas escavações, nossas preciosidades. Toda essa música, esse brilhantismo e força. A partir dessa lista da Rolling Stone, continuei compilando momentos memoráveis ao vivo, na TV ou em shows, registrados em vídeo. Ao menos temos essas joias, a gente tem que agradecer pelo que tem.
3 partes da apresentação memorável, no Saturday Night Live, em 1979. Com Klaus Nomi e Joey Arias, dois nomes da cena queer de NY que David pinçou para se apresentar com ele. Vi pela primeira vez na exposição "David Bowie Is", no MIS-SP, uma tv passava as cenas, cercada pelos figurinos e props usados no dia. Sensacional demais.
Lembro de achar esse medley com a Cher lá pelos idos de 2007 e ficar completamente chapada com tanta maravilhosidade,
"I don't know where I'm going from here, but I promise I won't bore you"
Melhor versão. Devia ser sempre assim.
Nos comentários do vídeo, alguém postou: "Aos 4:19 Bowie olha para cima e diz 'thank you'. Talvez agradecendo ao Universo por estar exatamente onde deveria" - ou alguém finalmente ajustou o retorno ;)
Essa entrada ~triunfal, esse sambinha que ele dá lá pro final da música, é tudo muito fabuloso.
Um dos meus primeiros contatos com ele.
Bowie sempre se cercou de gente foda, Gail Ann Dorsey é uma delas.
Esse está na lista que linkei acima mas resolvi postar aqui porque não consigo parar de ver. Foi a primeira coisa que eu vi do Bowie após saber da sua morte, e eu nunca tinha visto esse vídeo. mesmo de coração partido, estou apaixonada.